domingo, 27 de setembro de 2015

Reviews: Riverside - Love, Fear and The Time Machine



   Inovar ou prender-se a uma fórmula de sucesso? Eis um questionamento muito recorrente quando analisamos a discografia de um artista, em especial de gêneros como o rock e o heavy metal, com fãs bastante fiéis e rigorosos. Entretanto, dentro do universo particular do  rock progressivo, a sede por renovação e busca por novos horizontes musicais parece ser uma lei dentre os músicos. E é exatamente isso que parece guiar o Riverside, banda polonesa formada em 2001, no seu sexto álbum de estúdio: "Love, Fear And The Time Machine".


   A banda formada por Mariuzs Duda ( vocal, baixo), Piotr Grudzinski ( guitarra), Piotr Kozieradzki ( bateria) e Michal Lapaj ( teclados), desenvolveu em álbuns como "Second Life Syndrome" (2005) e " Rapid Eye Movement" ( 2007) um estilo próprio praticando um Prog Metal distinto com elementos de Space Rock e influências orientais, que remetiam bastante ao som dos americanos do Tool. Porém, em " Love, Fear and The Time Machine", o grupo se afasta ainda mais do metal, algo que já havia se iniciado no excelente " Shrines Of The New Generation Slaves" ( 2013), praticando um curioso rock progressivo com influências dos anos 80, num clima ainda mais suave e ameno do que seu antecessor.

   Tal atmosfera se explica pela temática do trabalho mais focada num lado mais humano e emocional, com um conceito baseado no desafio de uma pessoa fazer suas escolhas, desapegar-se do seu passado e na sua superação de medos e inseguranças para se atingir um objetivo e "se encontrar" na vida.

   Tão logo o líder Mariuzs Duda começou a confessar o seu recente " namoro" com a música da década de 80, que é tida como um período negro para o rock progressivo, as desconfianças começaram a brotar na cabeça dos fãs do estilo.  Porém, apesar disso, os elementos extraídos foram inteligentemente bem dosados e a produção passa longe dos excessos oitentistas.

   A sensação que se tem é que o Riverside andou ouvindo bastante bandas como Tears For Fears e The Cure nos últimos tempos, explorando características como refrões mais fortes ou reverberizações. A simplicidade e o flerte com o pop em " Addicted", as nuances de rock alternativo presentes em " Discard Your Fear", as vocalizações de Mariuzs Duda no trecho inicial de " Under The Pillow",remetendo bastante ao vocalista Robert Smith, do The Cure,  são alguns exemplos de elementos que destacam a referência oitentista. Não obstante, é necessário se destacar que tais elementos apenas preencheram as canções como um tempero que acrescenta um toque refinado às refeições. Eles em nenhum momento assumem total predominância ou desconfiguram o som do Riverside, mas são o suficiente para deixarem o resultado final bastante distinto se comparado aos álbuns da época mais Prog Metal do grupo.

   Entretanto,  a base do som dos poloneses ainda é o rock progressivo, vide a complexidade dos arranjos de faixas como " Saturate Me" com uma introdução recheada de quebradas e levadas instrumentais que lembram o Dream Theater, mas com um peso mais contido, ou "Towards The Blue Horizon", um dos melhores momentos do álbum, uma canção marcada por mudanças de climas ( ora mais suaves, ora mais sombrios) e andamentos em sua estrutura.

    "Love, Fear and The Time Machine" não é um álbum fácil de se digerir, pois não possui o peso de outrora e nem os arroubos sonoros de " Shrines Of The New Generations", exigindo algumas audições afim de que possa ser melhor apreciado. Algumas faixas como "Caterpillar and Barbed Wire" e "Afloat" podem passar batido por um ouvinte mais desatento, sem causar maior empolgação, pois suas qualidades aparecem de forma mais sutil do que o habitual. Entretanto, momentos como a primeira faixa "Lost( Why Should I Be Frightned By a Hat)" e "Under The Pillow" com seu instrumental cheio de groove e absolutamente delicioso são garantias desse efeito, em momentos de pura coesão instrumental e bastante energia.

     E por falar em groove, Mariuzs Duda andou caprichando nas linhas de baixo deste álbum. Se por um lado, para os fãs mais saudosos da banda, o teclado e a guitarra estão um pouco  mais tímidos (mas não menos importantes), os amantes do instrumento de 4 cordas podem vibrar com passagens criativas e "encorpadas" do instrumento, em canções como " Discard Your Fear" e a própria " Under The Pillow".


     Além de tudo isso, como não poderia deixar de ser em um álbum mas suave, o lado baladeiro da banda não foi deixado de lado, conforme podemos perceber na quase totalmente acústica"Time Travellers", com destaque para o vozeirão e a interpretação de Mariuzs Duda, e em "Found ( "The Unexpected Flaw Of Searching") , onde mais uma vez a beleza se encontra na simplicidade e na sutileza de seus arranjos.

     "Love, Fear and The Time Machine" é aquele disco que precisa ser ouvido de mente aberta, livre de preconceitos e comparações. Pode não estar à altura de um clássico, mas é um álbum que aos poucos vai se revelando em sua riqueza de detalhes e a cada audição gerando uma dose a mais de prazer ao ouvinte. Parabéns ao Riverside e a àqueles que não se acomodam e criam sempre coragem de sair de sua zona de conforto!

     Nota: 8,5

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