sexta-feira, 4 de setembro de 2015

Centurion Classics: Especial Overload Festival (parte 1): Anathema - Judgement



   A produtora Overload trará para São Paulo neste final de semana um festival que contará com diversas atrações do cenário underground do metal e do rock alternativo/ progressivo. O evento a ser realizado nos dias 5 e 6 de Setembro terá nomes como Reign Of Kindo, Riverside, Novermbers Doom, Antimatter, entre outros. Mas, o grande destaque fica por conta dos headliners Anathema e Paradise Lost, dois ícones do cenário do Doom/ Death Metal inglês dos anos 90, que além de São Paulo, farão shows juntos em Porto Alegre e no Rio. Portanto, a fim de homenagear essas duas grandes bandas, o Centurion Classics reserva seu espaço para eles. Nessa primeira parte, temos a resenha de Judgement do Anathema:


Anathema - Judgement (1999)






    Escolher um único clássico do Anathema não é tarefa das mais fáceis, visto que em função das várias mudanças em seu som, é muito comum que os fãs se dividam com relação a sua fase preferida. Alguns poderiam citar "The Silent Enigma" ( 1995), ainda da fase Doom/Death, outros podem ter como preferência o experimental "A Natural Disaster" (2003)". Eu, por exemplo, acredito que com mais tempo, o belíssimo " We`re Here Beacause We`re Here" (2010) possa também ser alçado a condição de clássico.

    Entretanto, lançado no dia 21 de Junho de 1999, " Judgement" talvez seja o mais querido entre os fãs. Um álbum que parece ser o ápice de uma fase em que o som dos ingleses mesclava de forma bem peculiar influências do Gothic Rock/ Metal a elementos lisérgicos que remetem diretamente ao Pink Floyd.

    " Judgement" não é um álbum para se ouvir enquanto está fazendo alguma tarefa paralela, ou enquanto está na rua. O ambiente mais propício para embarcar nessa viagem é o seu quarto, ou um canto particular de sua casa. O convite é para que se feche os olhos diversas vezes e deixe a música te conduzir por paisagens belíssimas e emocionantes. Há um clima hipnótico e introspectivo forte que se perdura por quase toda a audição. Os londrinos parecem ser mestres nisso. Muito além da melancolia aqui presente, acredito eu que, junto do experimentalismo, esse lado foi sempre o que mais caracterizou a sonoridade da banda.

   O álbum que vem como sucessor do experimental "Alternative 4" (1998), se mostra mais acessível e focado na beleza de suas melodias. Algo que se reflete claramente na primeira faixa "Deep". Os vocais de Vincent Cavannagh se mostram mais evoluídos tecnicamente e sua interpretação traduz com perfeição ímpar os sentimentos passados pelas canções ao longo do disco.

   Como em um trabalho de uma banda de rock progressivo, as faixas seguintes " Pitiless", " Forgotten Hopes", " Destiny is Dead" e "Make It Right (F.F.S) parecem conectar-se entre si, emendando uma nas outras e dando uma sensação de um todo.

   Já em " One Last Goodbye", clássico muitas vezes tocado nos shows, temos uma das mais belas baladas melancólicas e um verdadeiro convite para tirar lágrimas dos mais frios dos ouvintes (outro exemplo do aprimoramento dos vocais de Vincent).

   Um dos grandes destaques do disco é " Parisienne Moonlight". A bela canção baseada em piano e voz parece ser um prenúncio de uma característica que seria melhor desenvolvida pela banda anos mais tarde: em seus breves pouco mais de dois minutos, ela traz os vocais femininos de Lee Douglas ( hoje membro oficial do grupo). A cantora aparece como convidada nesse disco e realiza um belíssimo dueto de vozes com Vincent, num dos momentos mais belos da carreira do Anathema.

   Apesar de seu foco maior nas melodias, em " Judgement", a banda não abre mão de seu lado mais ousado e inovador. A faixa título  que se inicia de forma cadenciada e lisérgica, de um simples dedilhado de violão, vai crescendo de forma avassaladora, desembocando num enérgico punk rock em seu fim. Enquanto que " Don`t Look Too Far", com backing vocals de Lee Douglas, mostra a banda flertando com o rock alternativo com aqueles efeitos psicodélicos de guitarra típicos das bandas grunge dos anos 90.

   A influência do Pink Floyd se mostra mais forte nas faixas seguintes, vide " Emotional Winter" com sua introdução na guitarra à la " Shine On You Crazy Diamond" e na bela e pesada " Anyone, Anywhere", que parece um encontro da melancolia do The Smiths com o Pink Floyd. Um destaque a parte também se faz necessário para a excepcional " Wings Of God". Com uma pesada base de guitarra, parece ser um dos últimos momentos mais metálicos do Anathema. Vincent traz de volta linhas vocais bastante empregadas em " Alternative 4", com performance mais uma vez digna de nota. Grandiosa e intensa, tem um encerramento épico e com um feeling nas alturas!

   E para encerrar,  a instrumental " 200 and Gone", faz mais um prenúncio do Anathema dos anos 00. Suave e delicada, a faixa mostra a banda flertando pela primeira vez com o post-rock, influência que foi ficando cada vez mais predominante em seu som.

   "Judgement" parece ser a obra mais próxima da perfeição da carreira do Anathema. Um álbum homogêneo, regular em seu todo e que teve o mérito de dosar o seu lado mais alternativo em prol da beleza e do sentimento das canções. Um disco que certamente superou a passagem do tempo e que continuará a  encantar os fãs de boa música dos mais variados gêneros.

 

 

 

 

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