domingo, 13 de setembro de 2015

Centurion Classics: Pink Floyd - Wish You Were Here



Há 40 anos, a homenagem a Syd Barret que se transformou em mais um clássico


   Em Junho de 1975, um homem gordo, careca, de sobrancelhas raspadas, vestindo casaco e sapatos brancos comparecia ao famoso estúdio Abbey Road fazendo uma visita aos seus antigos amigos e companheiros de banda, durante os estágios finais de produção de mais um álbum. Tratava-se do ser idealizador e fundador do Pink Floyd, dono de uma outrora mente genial, que agora encontrava-se em ruínas em função dos excessivos abusos de LSDs e drogas afins. Ninguém menos do que Roger Keith Barrett, mais conhecido como Syd Barret! Sua aparência extremamente modificada, durante os anos de reclusão autoimposta, o tornara praticamente irreconhecível.

   Abordando temas como os negócios da música e ausência ( física e mental), em "Wish You Were Here",  nono álbum de estúdio do Pink Floyd, o líder e baixista Roger Waters se espelhava no contexto vivido pela banda diante do cenário do show business, gravadoras e tudo mais que rodeia o mundo da indústria fonográfica, além dos sentimentos gerados a partir do afastamento e do estado deplorável em que se encontrava seu velho amigo Syd.

   A música, como forma de expressão de arte, em via de regra, costuma estar intrinsicamente relacionada aos sentimentos e ao contexto em que se situa o seu autor/artista. Partindo dessa premissa e se transpondo um pouco para a mente do genial baixista, não é difícil entender porque "Wish You Were Here" soa tão passional e nostálgico em seu todo.

   O nono trabalho de estúdio do Pink Floyd foi também o registro em que a banda se encontrava mais "afiada" tecnicamente. A inspiração fluía de forma impressionante: solos de guitarra de beleza ímpar, passagens memoráveis de teclados e sintetizadores, vocais grandiosos, além de uma atmosfera envolvente e acalentadora que somente uma banda como o Pink Floyd seria capaz de produzir.

   E se houve uma música que melhor sintetizasse essas características, sem dúvida, nenhuma foi a suíte " Shine On You Crazy Diamond". Dividida em duas partes, uma explícita homenagem ao "diamante louco" Syd Barret. Sua primeira parte se tornou presença forte nos setlists dos shows da banda ou solos de David Gilmour e Roger Waters. Com uma introdução crescente que leva mais de 8 minutos, mostra Gilmour num dos momentos mais inspirados de sua carreira, enquanto os sintetizadores tocados por Rick Wright ajudam a criar todo o clima inebriante da canção. Os poucos versos cantados por Waters e Gilmour já são o suficiente para gerar um momento de clímax até que o solo de saxofone de Dick Parry encerra a canção de forma inesperada, porém altamente marcante. Uma canção espetacular e única, feita por uma banda igualmente única!

   Em "Welcome To The Machine" e " Have a Cigar", as letras fazem referência e criticam a indústria da música. A primeira constitui um dos momentos mais viajantes e densos já produzidos pelo grupo, graças ao uso maciço de sintetizadores que, em certos momentos, geram um efeito similar ao de máquinas trabalhando, Em sua letra, é feito um discurso de boas vindas à " máquina" ( no caso a indústria musical) ao jovem que sonha ser um astro do rock.

   Já em " Have a Cigar", temos o momento mais rocker do disco. Um rock basico e enérgico, que recebeu os vocais do convidado Roy Harper. A música que foi composta numa parceria Gilmour/Waters, inicialmente continha os vocais de Waters. Entretanto, Waters apresentou muitas dificuldades e Gilmour achou melhor chamar alguém de fora para cumprir o papel. Mais uma vez o discurso é feito ao aspirante da música, só que dessa vez o porta-voz é como se fosse um empresário ou dono de uma gravadora.

   O momento mais radiofônico ficou por conta da faixa-título, uma bela balada folk rock. Singela e grandiosa ao mesmo tempo, o trecho mais sentimental e melancólico do álbum. Uma canção que só por seu título já evidencia os sentimentos de saudade do ex-companheiro. Sua letra desenvolvida em cima de antíteses ( heaven from hell/ cold comfort for change/ heroes for ghosts) retrata o estado esquizofrênico e o comportamento instável de Syd.

   E encerrando a "bolacha", menos lembrada, mas não menos importante, temos a segunda parte de "Shine On You Crazy Diamond". Música que talvez seja a mais trabalhada da história do grupo, seu instrumental é de uma coesão e sinergia que impressionam e surpreendem, dado o fato de o Pink Floyd nunca ter sido exatamente uma banda virtuosa. Com mudanças repentinas de andamento em sua estrutura, é um dos momentos mais progs da carreira do grupo, daqueles que certamente sempre geraram embates acirrados em discussões se a banda se encaixa como progressiva ou não. Fato é que enquanto escrevo essas linhas, seus mais de doze minutos passam numa velocidade incrível, sensação transmitida somente por grandes e verdadeiros épicos. E por falar em épicos, seu final é realmente de causar arrepios, de uma emoção inenarrável o que Rick Wright faz nos teclados e sintetizadores.

   "Wish You Were Here" se comparado aos outros álbuns da bela discografia da banda talvez tenha sido o álbum que melhor tenha condensado e equilibrado a pare técnica instrumental à emocional e ao lado atmosférico característico da banda. Se não possui o detalhamento lírico dos conceitos de outros como " Dark Side Of The Moon" ou " The Wall", provavelmente do ponto de vista musical seja o mais completo por esses fatores supracitados. Além de tudo isso, é meu eleito como favorito do Pink Floyd, um trabalho que mesmo após diversas audições, nunca perde seu efeito da primeira vez, um verdadeiro clássico!

   

Um comentário:

  1. Bom artigo!
    E não mencionam a data, mas foi a 5 de setembro e não a 12, como consta no wiki. É o que diz a informação oficial da banda.
    Por cá também vamos celebrar, no próximo sábado: https://www.facebook.com/events/443999499116270/

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