Diamond Head: Um gigante pouco conhecido da NWOBHM
Formada em 1976, em Stourbridge, na Inglaterra, o Diamond Head foi umas das mais notáveis bandas do chamado New Wave Of British Heavy Metal ( NWOBHM), movimento responsável pelo boom de uma nova geração disposta a atrair novamente a atenção do público para o Hard Rock/ Heavy Metal, que havia perdido seu espaço para estilos como o punk e a dance music, além de ter servido de base para o crescimento e desenvolvimento do gênero.
Apesar da incrível musicalidade apresentada em seu debut," Lightning To The Nations", e de sua reconhecida influência em gigantes do metal como Metallica e Megadeth, o conjunto inicialmente composto por Brian Tatler ( guitarra solo, backing vocal), Sean Harris ( vocal, guitarra rítmica), Duncan Scott ( bateria) e Colin Kimberly ( baixo, backing vocal) não conseguiu alcançar o sucesso de seus contemporâneos como Iron Maiden, Def Leppard ou até mesmo o Saxon, e hoje sobrevive justamente em função do próprio Metallica, que já regravou cinco de suas músicas, além de citá-los em vários momentos como uma banda fundamental para eles.
O objetivo a que me proponho traçar por essas linhas é discorrer um pouco sobre a trajetória pouco conhecida desses ingleses de tanto talento, mas que por ironia do destino, não atingiram o seu devido reconhecimento.
Primeiros Anos e "Lightning To The Nations"
Surgido em 1976 por iniciativa dos colegas de escola Brian Tatler ( guitarra) e Duncan Scott ( bateria), o Diamond Head teve mais tarde a adição do vocalista Sean Harris ( cujos testes foram feitos no próprio quarto de Brian Tatler) e, após três tentativas frustradas com outros músicos, do baixista Colin Kimberly ( amigo de infância de Tatler).
Estabelecida tal formação, o grupo gravou algumas fitas cassete com dinheiro do próprio bolso. Ao contrário da maioria das bandas em seu começo, o Diamond Head priorizava mais compor material próprio do que fazer covers. Tatler em entrevista uma vez disse que eles tinham mais de cem músicas compostas antes de seu álbum de estréia, mas que apenas " It`s Eletric" acabou sendo incluída.
Empresariados por Reg Fellows e pela mãe de Harris ( Linda Harris), a banda assinou contrato com a gravadora independente Happy Face Records e, após o lançamento dos singles "Shoot Out The Lights" e " Sweet and Innocent", lançou seu cultuado disco de estréia " Lightning To The Nations", como é mais conhecido, já que a princípio não possuía título.
" Lightning To The Nations" deve, ao meu ver, sem o menor exagero, ser incluído em qualquer lista dos grandes álbuns da história do Heavy Metal. Apesar do baixo orçamento e de sua produção mais crua, o nível das composições apresentadas aqui os colocava a frente das outras bandas da cena NWOBHM, inclusive do Iron Maiden com Paul Di`Anno ou do Saxon de Biff Byford. O Diamond Head era uma banda distinta. Enquanto outras bandas baseavam seu som na simplicidade e urgência, influenciadas ainda pelo punk rock ou pelo som feito por ícones como o Motorhead, o grupo de Brian Tatler fazia um som mais complexo, elaborado, carregado de características de ícones setentistas como Led Zeppelin, Rush, Black Sabbath, UFO e Cream, mas que, ao mesmo tempo, sabia incluir em doses certas o "punch" das músicas mais rápidas de um Judas Priest. ou Motörhead.
Viajando através das velozes e intrincadas " Helpeless" e " Lightning To The Nations", de longas jams instrumentais à la Deep Purple e Led Zeppelin como em " Sucking My Love", da cozinha funkeada e destacada de " The Prince" ( sempre penso na influência que o baixo dessa música deve ter exercido no estilo de David Ellefson do Megadeth), dos vocais habilidosos e empolgantes de Sean Harris, uma espécie de Phil Moog ( UFO) mais doidão, do virtuosismo de um guitarrista espetacular que em seus solos unia Ritchie Blackmore à Eddie Van Halen e nos remetia a Tony Iommy em seus riffs, um álbum perfeito! Diversificado, eclético, ao mesmo tempo em que expunha o inocente desejo de se montar uma " rock and roll band" em " It`s Eletric", nos mostrava seu lado mais obscuro na pesadíssima " Am I Evil"´, que com seus riffs grudentos e sua levada cativante, torna impossível a não associação com o Metallica. Um verdadeiro clássico que deveria chegar aos ouvidos de qualquer headbanger ou amante de rock clássico que se preze.
Diamond Head - The Prince
Diamond Head - Am I Evil?
Nova gravadora e mais dois álbuns
Em seus primeiros anos, o Diamond Head fez turnês de apoio a bandas como AC/DC e Iron Maiden. O burburinho gerado por suas destacadas apresentações, os levou a assinar com a major MCA Records. Assim, a banda gravou mais um EP intitulado " Four Cuts", que incluía duas músicas antigas ( " Shoot Out The Time" e " Dead Reckoning") mais dois álbuns, " Borrowed Time" e " Canterbury".
Com o novo contrato, os ingleses de Stourbridge começaram a se voltar para uma linha mais Hard Rock, se afastando completamente da cena NWOBHM. Embora não tenham de fato sido tão espetaculares quanto o seu debut, os dois álbuns seguintes nem de longe merecem desprezo. São excelentes trabalhos de Hard Rock, onde a banda apresenta muita qualidade, bom gosto e autenticidade.
Em " Borrowed Time", as influências blueseiras aparecem mais fortes como na longa " Don`t You Ever Leave Me" e há muita melodia como em " In The Heat Of The Night". A complexidade ainda se faz presente na bem trabalhada faixa título e o "punch" do primeiro trabalho aparece na mezzo AC/DC " To Heaven From Hell". Um disco muito gostoso de se ouvir. Seu único pecado foi ter incluído, por exigência da gravadora, as músicas " Lightning To The Nations" e "Am I evil?", que ficaram completamente deslocadas dentro do contexto da obra. " Borrowed Time" conseguiu um relativo sucesso na época, alcançando a posição n° 24 no chart do Reino Unido, que levou o grupo a fazer uma extensa turnê, passando por grandes casas de show como a Hammersmith Odeon, em Londres.
Diamond Hell - To Heaven From Hell
Em " Canterbury", o Diamond Head resolve experimentar mais uma vez, explorando um Hard Rock bastante diferenciado em relação ao que rolava na época. Com temática medieval, "Canterbury" tem ao longo de suas 9 faixas, momentos folk como em " Out Of Phase", épicos como em " The Kingmaker" e " To The Devil His Due" e há até a influência do rock progressivo como na faixa título, que traz uma belíssima introdução no piano. A ode ao Rock and Roll aparece também na cativante " Makin`Music" com seu belíssimo refrão melódico. Criatividade era o que não faltava a eles.
Apesar de sua enorme qualidade, o trabalho foi marcado por vários contratempos. Infelizmente, as 20.000 primeiras tiragens do álbum sofreram problemas no processo compressão do vinil. Durante o processo de gravação, o baterista Duncan Scott foi demitido e o baixista Colin Kimberly deixou a banda logo após gravar suas partes de baixo. Segundo Tatler, Scott não estava contribuindo o suficiente, enquanto Kimberly parecia estar achando o trabalho da banda duro demais para ele. Mervyn Goldsworthy, ex- Samson e Robbie France, assumiram o baixo e a bateria respectivamente. Além de tudo isso, a mudança de estilo não foi bem recebida pelos fãs de " Borrowed Time".
Em 1983, a banda participou do festival " Monsters Of Rock" em Donington, além de abrir os shows da turnê européia do álbum "Born Again", do Black Sabbath. As baixas vendas de " Canterbury" levou a MCA Records a encerrar o contrato com o grupo, que chegou a iniciar o processo de composição de seu quarto álbum, que se chamaria " Flight East". Porém, por falta de interesse das gravadoras e de dinheiro entrando, o trabalho nunca chegou a ser concluído e lançado. Esses motivos levariam o Diamond Head a dar uma pausa em 1985.
Diamond Head - Makin`Music
Diamond Head - To Devil With His Due
Reunião, novo álbum e parcerias
No início dos anos 90, com o crescente status do Metallica e as constantes citações dos norte-americanos da Bay Area à importância que o Diamond Head teve para eles, o grupo voltou a ter seus discos vendidos. Isso motivou Brian Tatler e Sean Harris a se unirem novamente. Tão logo eles começaram a compor músicas para um novo álbum e recrutaram Karl Wilcox para a bateria e Eddie Moohan para o baixo.
Em 1993, era lançado o quarto álbum, " Death and Progress", com ilustres participações de Tony Iommy, tocando guitarra em " Starcrossed" e de Dave Mustaine tocando guitarra em " Truckin", as duas primeiras faixas do trabalho, que fazem o Diamond Head voltar a fazer um som mais puxado para o metal. Porém, dali em diante, o disco vai assumindo uma roupagem bem Hard Rock com alguns toques de Heavy Metal. O registro nos apresenta em seu todo um Hard Rock bem vigoroso com algumas influências de Led Zeppelin e Aerosmith, além de uns toques de Rythm and Blues que dão um ar mais Rock and Roll ao trabalho. Se não possui o mesmo nível de excelência dos três primeiros, ainda assim é um álbum muito legal de se ouvir, daqueles que você coloca para pegar a estrada.
Durante essa época, um show realizado pelo grupo abrindo para Metallica e Megadeth, no National Bowl, em Milton Keynes serviu para atrair mais atenção para os britânicos. Apesar disso, em 1994, a banda se separaria novamente
Diamond Head - Damnation Street
Diamond Head - Wild On The Streets
Era Nick Tart
No ano de 2000, a banda se reuni novamente com a mesma formação de " Death and Progress", começam a realizar turnês e chegam inclusive a fazer seu primeiro show nos Estados Unidos. A banda volta ao estúdio para gravar um quinto álbum, chamado " Host". Porém, desavenças entre Brian Tatler e Sean Harris acabam levando a demissão do vocalista.
Brian Tatler e os outros decidem dar prosseguimento às atividades e Nick Tart é anunciado como novo vocalista. No ano de 2005, é lançado o quinto álbum " All Will Be Revealed"e o Diamond Head entra em turnê com o Megadeth para promovê-lo. A tradição de lançar discos muito diferentes entre si é mantida. O trabalho, além de conter um clima bem mais sério, apresenta muito mais peso que seu antecessor, tendendo mais para o Heavy Metal. Apesar disso, o Hard Rock ainda tem presença forte em faixas como " Nightmare", " Come Alive" e " Muddy Waters". Mais uma vez, a banda entrega um trabalho de qualidade acima da média, enquanto o estilo vocal de Nick, uma espécie de Robert Plant mais moderno e comedido, parece ter se encaixado bem ao seu som, muito embora muitos fãs tenham ficado órfãos de Sean Harris.
Diamond Head - Mine All Mine
Diamond Head - Nightmare
Em 2007, sai o sexto e último álbum, " What`s In Your Head?". Apesar de alguns bons momentos como na bem trabalhada " killing Me" e na veloz "Pray For Me", é o registro mais fraco do conjunto. Me pareceu que faltou inspiração e as canções em geral não conseguiram passar o mesmo feeling de outrora, sendo que músicas como " Skin On Skin" ou " This Planet and Me" parecem não combinar com a proposta sonora da banda. Não a toa, após isso Brian Tatler não se mostrou mais interessado em gravar um novo trabalho.
Diamond Head - Killing Me
Desde então, o Diamond Head tem se dedicado a extensas turnês pelo Reino Unido, Europa e Japão. Em destaque, o marcante show que eles fizeram no festival Sonisphere, em Knebworth, na Inglaterra, dividindo o placo com o Big 4 ( Metallica, Megadeth, Anthrax e Slayer) no ano de 2011( segue o abaixo o vídeo da apresentação). No dia 15 de Agosto do mesmo ano, enfim, a banda tão influente para os músicos de heavy metal dos Estados Unidos, deu inicio a sua primeira turnê pela terra do Tio Sam, completando um total de 17 shows. Recentemente, em Outubro desse ano, o vocalista Nick Tart deixou a banda, declarando apenas que era chegada a hora de seguir em frente.
Para você que é fã de Heavy Metal, Hard Rock, Metallica ou simplesmente da boa música, fica aqui a minha indicação de mais uma das várias bandas de muito talento e pouco reconhecimento que temos na história do Rock. Um conjunto que, apesar de seus vários contratempos e idas e vindas, certamente nos brinda com uma discografia digna de respeito e com qualidade de sobra. Graças à boa internet e ao Metallica também (rsrs), podemos ter o privilégio de conhecer essa maravilhosa banda! Desfrute!
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente Aqui: