sábado, 11 de outubro de 2014

Centurion Classics: Resenha de In The Court Of The Crimson King



  Há 45 anos, o marco inicial do rock progressivo

   Fim dos anos 60 e o mundo vivia a efervescência do movimento hippie. O anseio por expressar e afirmar a personalidade se apresentava de forma ainda mais contundente nos jovens daquele período. Eles eram contra as guerras (Guerra do Vietnã) e o nacionalismo americano e queriam explorar os limites estabelecidos pela classe média conservadora. Daí veio a busca pelo sexo e amor livre, pelas drogas ( destaque para o ácido lisérgico), o culto a religiões orientais como o budismo e hinduísmo e às formas simples de vida,  Em resumo, uma maneira de mostrar ao mundo uma maneira alternativa de se viver.
   Dentro desse contexto social, o rock, principal gênero musical ouvido por essa juventude, sofria mutações, adquiria contornos mais sérios e buscava quebrar paradigmas dentro sua própria estética. Mesclado ao consumo do LSD, assumia a forma do psicodelismo, uma forma mais experimental do estilo.

   A arte psicodélica cruzava o oceano e chegava à Inglaterra, sendo o álbum "Sgt. Pepper`s " dos Beatles, seu principal referencial. Foi então que uma geração formada por jovens músicos, filhos de classe média, começou a dar um tratamento mais sofisticado àquela experimentação inicial. Com uma bagagem musical já muito extensa para tão pouca idade, esses músicos começavam a incluir em suas composições um rebuscamento calcado em improvisações jazzísticas, elementos da música erudita, no uso de instrumentos incomuns e na exploração de arranjos pouco usuais. Em músicas de artistas como Frank Zappa, Procol Harum e Caravan, esses traços já começavam a surgir.
   Até que no dia 10 de Outubro de 1969, uma banda formada pelo guitarrista Robert Fripp, baterista e percussionista Michael Giles, baixista e vocalista Gregg Lake, saxofonista,flautista e tecladista Ian McDonald e pelo letrista e poeta Peter Sinfield, chamada de King Crimson, lançaria seu disco de estréia que, no consenso da maioria dos críticos do assunto, representaria o nascimento do que seria a vertente mais vanguardista do rock. Todos aqueles elementos descritos acima, já explorados em menor escala por outros, eram enfim reunidos aqui. O rascunho era passado a limpo e o rock progressivo tomava forma.

    Com o desenvolvimento do Heavy Metal, o conceito de música pesada ficou totalmente atrelado e baseado no uso de guitarras distorcidas. Mas, antes disso, artistas como o King Crimson compunham músicas como " 21 st Century Schizoid Man" que provavelmente devem ter proporcionado um impacto próximo a quem ouviu pela primeira vez uma " Black Sabbath", por exemplo, mas sem necessariamente focar tanto na guitarra. Uma comparação talvez exagerada, porém, fato é que esta música abre " In The Court Of Crimson King" de forma agressiva e surpreendente, ainda mais se nos translocarmos para o contexto musical de 1969. Um muro sonoro construído por saxofones somados a voz distorcida e ao baixo veloz e imponente de Gregg Lake se coloca a frente do ouvinte. A guitarra distorcida aparece, mas é apenas mais um dos elementos dessa massa sonora, onde psicodelia e improvisações jazzísticas se misturam dando um caráter ainda mais louco a esta canção.
    O clima do disco então muda abruptamente com a suave e bela " I Talk To The Wind", uma música baseada nos vocais e nos instrumentos de sopro, que gera uma agradável sensação de relaxamento no ouvinte. A beleza melódica, uma constante no álbum, se faz presente também em " Epitaph", entretanto, trazendo uma carga mais dramática, em função do uso imponente do mellotron, de orquestrações e de todo o lirismo presente nos vocais de Gregg Lake que, juntos, constroem uma atmosfera densa e viajante.
   A quarta faixa " Moonchild" se inicia de forma suave, com sua letra sendo decantada e os pratos da bateria de Michael Giles ditando o ritmo. Até que, com menos de 2 minutos e meio, ela se desemboca num instrumental recheado de improvisos e psicodelia. O momento de maior dificuldade de assimilação do disco que se estende por mais de dez minutos, mostrando que o King Crimson nunca foi uma banda fácil de se ouvir. Com insistentes audições, o ouvinte pode ser capaz de se acostumar àqueles barulhinhos esquisitos e até enxergar um pouco de beleza em seu final.
   Então, toda a carga dramática e melódica presente em " Epitaph" retorna com força total em " The Court Of Crimson King". Uma coisa a se destacar é a destreza incrível dos músicos na construção do clima desta música, em tempos de pouca tecnologia disponível. Os dedilhados da guitarra de Robert Fripp, a bateria marcante de Michael Giles, o vocal expressivo e imponente de Gregg Lake, a grandiosidade do mellotron e dos vocais em coro no refrão, uma riqueza de detalhes encaixada cirurgicamente. E o que dizer do solo de flauta de Ian McDonald em seu interlúdio? De seu falso fim lá pelos seus sete minutos antes de seu real fechamento majestoso ao melhor estilo dos grandes épicos do rock progressivo?! Apenas ouça e sinta o que a música maravilhosamente é capaz de te transmitir, porque certamente não há respostas satisfatórias para responder a estas questões.

   E assim se encerra " In The Court Of Crimson king", um dos melhores álbuns de estréia de todos o tempos! Um clássico que transgrediu as barreiras do próprio estilo que criou, influenciando gente do rock alternativo, do heavy metal e de outras vertentes. Uma das maiores obras da história da música!
 


 

 
 
 

 
 

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