O Opeth sempre foi
uma banda distinta. Lembro-me com exatidão da minha primeira impressão, ainda
garoto, quando meu primo me apresentou " The Drapery Falls", uma longa
e hipnótica canção, presente no clássico
" Blackwater Park". Eu estava apenas me iniciando no mundo do rock,mas aqueles riffs e acordes me transportavam para uma outra dimensão. Recordo-me também de ter me assustado um pouco com aqueles
guturais, mas tudo era tão bem feito e encaixado que, no final, minha resposta
foi de aprovação.
Apesar disso, me
mantive afastado durante anos. Embora achasse interessante o modo como mesclavam influências de jazz, rock progressivo e folk a
um som extremo do death metal, não gostava de guturais, encarava isso com certo
preconceito e como um entrave para começar a curtir a banda.
Em 2008, eles lançavam o álbum " Watershed" e decidi me
predispor a conhecer melhor o rebuscado som dos suecos. Além do trabalho recém
lançado, ouvi " Ghost Reveries" e " Damnation" e me senti,
enfim, atraído por todo aquele refinamento de timbres; pela ênfase nas atmosferas ora sombrias, ora melancólicas; pelas influências do rock clássico e progressivo, com direito a uso de mellotron e hammond;
pelo instrumental bem trabalhado, mas na medida, passando longe do virtuosismo
gratuito; além da produção super cristalina desses trabalhos. Após isso, aprofundei-me mais
em sua discografia e passei não só a assimilar bem os vocais guturais de
Akerfeldt, como a reconhecer seu talento e versatilidade em alterná-los tão bem
com os vocais limpos. Tornei-me, de fato, um fã.
E foi com espanto e surpresa, que me
deparei com as notícias de " Heritage", lançado em 2011. Mikael estava disposto a
mudar drasticamente o direcionamento das composições do grupo que havia
aprendido a admirar. A banda ressurgiria com uma sonoridade retrô calcada no
rock progressivo e psicodélico pesado do início dos anos 70. Os fãs extremistas
viram tudo isso com um olhar de censura,
mas eu, como grande fã do rock setentista, criei nisso um motivo de curiosidade
e boas expectativas, que o futuro acabou por confirmar...
O Opeth lançou esse
ano "Pale Communion", o segundo álbum desta nova fase iniciada com "Heritage".
Um trabalho mais coeso que veio a lapidar alguns elementos iniciados no registro anterior, complementando com outras muito bem sucedidas idéias.
O disco se inicia de forma pesada e bem
intricada. E após uma espécie de explosão, cede-se lugar à suavidade do piano e
a uma guitarra tocada de forma bem sutil. Aos poucos,esses elementos vão introduzindo
o ouvinte a uma passagem folk acústica que
ocupa grande parte de " Eternal Rains Will Come". Os vocais entram e
tudo se transforma numa melodia altamente envolvente com destaque para o
trabalho de hammond de Joaquim Svalberg, para o solo curto, porém eficiente de
Fredrik Akersson e para as harmonias vocais( um dos
elementos mais empregados no disco).
Em seguida, temos o momento mais pesado
e direto de " Pale Communion": " Cusp Of Eternity", caracterizada por seu riff com tempo
quebrado e pelos vocais viajantes de Akerfeldt. É uma canção altamente hipnótica, recheada de
elementos da música do oriente médio.
Se " Cusp Of
Eternity" mostra um lado bastante objetivo, " Moon Above, Sun
Below" opta pelo caminho mais difícil. É uma música de assimilação mais
complicada, embora uma das mais inspiradas. Alternando momentos de peso e
suavidade acústica, tem uma estrutura que lembra o velho Opeth, só que mais
progressiva e intrincada do que de costume. Após mais de dez minutos de pura viagem, o verso " Only Circles On The Water"
é repetido por Akerfeldt e um clima de solidão encerra a faixa.
"
Elysian Woes" tem tudo para agradar aos fãs de "Damnation". Ela
traz em si uma atmosfera melancólica e envolvente, num formato semi-acústico
típico das canções deste álbum. Destaque para o trecho final da canção, onde o
mellotron de Joaquim Svalberg e a performance vocal de Akerfeldt dão um toque todo especial.
Já em " Goblin", que recebe esse título em homenagem a uma banda italiana de rock progressivo de mesmo nome, o ouvinte se depara com uma instrumental super bem trabalhada que serve para mostrar o quanto os músicos estão " afiados" tecnicamente. Todos os instrumentos têm destaque por igual , como nos velhos tempos, e há a presença de fortes elementos de fusion.
Já em " Goblin", que recebe esse título em homenagem a uma banda italiana de rock progressivo de mesmo nome, o ouvinte se depara com uma instrumental super bem trabalhada que serve para mostrar o quanto os músicos estão " afiados" tecnicamente. Todos os instrumentos têm destaque por igual , como nos velhos tempos, e há a presença de fortes elementos de fusion.
A seguir,o Opeth segue surpreendendo e "
River" pode ser dividida em duas partes. Na primeira, temos uma espécie de
balada folk com aquela áurea
setentista presente em trabalhos de bandas como o Lynyrd Skynyrd. As harmonias
vocais e a melodia dão toda tônica dessa passagem , que tem seu ápice no
belíssimo solo de guitarra de Fredrik Akersson. Já na segunda metade, temos um momento bem
progressivo, com todos os membros, sem exceção, fazendo um trabalho digno de
respeito dos grandes medalhões do gênero. A música vai ficando cada vez mais
rápida e se encerra bem pesada, mas nada fora do contexto de " Pale Communion",
é claro. Sem dúvidas, uma das minhas preferidas!
Em " Voice Of Treason", temos outra novidade que engrossou o orçamento da produção: o uso de orquestrações. Em seu início, a bateria de Martin Axe Axenrot recebe o
destaque, marcando o tempo da faixa de forma repetitiva e até meio chata com as orquestrações fazendo o
acompanhamento. É um trecho,
na minha opinião, um pouco linear demais para os padrões do álbum. Entretanto, aos poucos, aquele ritmo repetitivo inicial vai cedendo espaço para uma passagem mais elaborada recheada de elementos do oriente médio, que acabam por torná-la mais interessante.
Então,
eis que temos um "gran finale"! Isso pode parecer "piegas", mas é dificil demais descrever com palavras a beleza de " Faith In Others" - uma
balada melancólica lindíssima que encerra " Pale Communion". Se tem
uma canção nesse disco que melhor pode traduzir o alto nível de maturidade
alcançado pelos suecos de Estocolmo, é esta sem dúvidas. Mais uma vez, os arranjos orquestrados são usados, só que de maneira mais incisiva.
E, justiça seja feita, a interpretação de Akerfeldt realizada aqui é algo incrível, emocionante mesmo, digno de
um grande vocalista. Sinceramente, alguém ainda sente falta dos guturais?
A audição se encerra deixando um
gostinho de " quero mais", típico de um álbum marcante. " Pale Communion" acaba por firmar
de vez o Opeth em seu novo direcionamento. É uma notória e bem-vinda evolução em relação a "
Heritage", o que deve agradar até mesmo aos fãs que tiveram
dificuldades em se adaptar ao seu último trabalho. E o
seu líder, Mikael Aerfeldt, parece mais convicto do que nunca de que este é mesmo o caminho ideal a ser
trilhado para o futuro.
Nota: 9
1. | "Eternal Rains Will Come" | 6:43 |
2. | "Cusp of Eternity" | 5:35 |
3. | "Moon Above, Sun Below" | 10:52 |
4. | "Elysian Woes" | 4:47 |
5. | "Goblin" (instrumental) | 4:32 |
6. | "River" | 7:30 |
7. | "Voice of Treason" | 8:00 |
8. | "Faith in Others" | 7:39 |
Outras matérias:
Opeth: Mikael Akerfeldt revela desejo em relação a Pale Communion
O vocalista/ guitarrista e líder do Opeth Mikael Akerfeldt afirmou que gostaria de manter novo álbum sob segredo até seu lançamento e que a decisão de lançar " Cusp Of Eternity" e " Eternal Rains Will Come" como divulgação de " Pale Communion" esteve fora do controle da banda.
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