segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Dream Theater: Apenas uma banda de músicos virtuosos?


 O que vem a ser senso comum?
  "Na filosofia, o senso comum (ou conhecimento vulgar) é a primeira suposta compreensão do mundo resultante da herança fecunda de um grupo social e das experiências atuais que compreensão do mundo resultante da herança fecunda de um grupo social e das experiências atuais que continuam sendo efetuadas.
Ele descreve as crenças e proposições que aparecem como normal, sem depender de uma investigação detalhada para alcançar verdades mais profundas como as científicas.   Um tipo de conhecimento que se acumula no nosso cotidiano e é chamado de senso comum, baseado na tentativa e no erro. O senso comum que nos permite sentir uma realidade menos detalhada, menos profunda e imediata e vai do hábito de realizar um comportamento até a tradição que, quando instalada, passa de geração para geração".
    E  que "raios " esse conceito tem a ver com o Dream Theater? 
 
    O Dream Theater já pode ser considerada uma banda veterana. Já se vão quase 30 anos desde sua formação. Desde então, os músicos norte-americanos já gravaram 12 álbuns de estúdio, 7 ao vivo, 2 EPs e 20 singles. Mesmo sem uma forte divulgação no meio mainstream, conseguiram arraigar legiões de fãs pelo mundo, se tornaram uma das maiores bandas de metal e ícones do que se convencionou chamar de metal progressivo ou prog metal. 
     Apesar de tudo isso, muito em função da avantajada técnica exibida por seus integrantes, eles se transformaram numa espécie de " ame ou odeie". Muitos "torcem" o nariz, dizem que os integrantes são malabaristas no palco, têm o ego elevado,  não sabem compor ou demonstrar pouco " feeling" em suas músicas, entre outras fortes acusações. Verdade seja dita, há muitos fãs também que os endeusam, olhando apenas através do único prisma da técnica. 
      Daí  podemos concluir que, entre  "haters", conhecedores superficiais ou até mesmo fãs, Dream Theater se tornou sinônimo  de virtuosismo e técnica apurada. Um senso comum, como muitos outros presentes no nosso coletivo inconsciente. A reflexão pouco embasada, imediatista e fruto do que foi transmitido por outrem, conforme expus na introdução acima.
      Com tanto tempo de carreira, experiência musical adquirida e considerando todos os entornos de uma composição, fica fácil de concluir que todas estas acusações são fruto de uma generalização, de uma crítica infundada e injusta contra a banda. E, como se não bastassem meus argumentos, deixo aqui exemplos de músicas que traduzem muita melodia, harmonia, " feeling" e inspiração aliada a toda essa já massificada técnica:

  1. Scarred


      Música presente no  clássico "Awake" de 1994. Bastante intrincada e cheia de varições. Tem uma introdução bem jazzística, com uma levada bastante similar à nossa MPB. A música é daquelas que vai crescendo, ganhando peso até, que após várias passagens intrincadas e mudanças de andamento, alcança o seu clímax num belo solo de guitarra de John Petrucci. Uma das melhores composições da banda.
    2. Space Dye-Vest
   
       Outra música do disco " Awake". Composta pelo tecladista Kevin Moore antes de deixar a banda, se tornou muito comentada pelos fãs, já que era uma das raras músicas ainda não tocadas ao vivo pela banda até o início desse ano. Com uma atmosfera densa, sombria e melancólica, dá todo o destaque a brilhante atuação de Kevin Moore. A canção é, para mim, a mais viajante já composta pela banda.
3. Hell`s Kitchen/ Lines In The Sand

     Duas faixas que se interligam no álbum mais melódico do grupo, " Falling Into Infinity". "Hell`s Kitchen" é uma instrumental que mostra que, embora tenha realmente seus momentos de excesso, o Dream Theater sabe aplicar sua técnica de forma canalizada e objetiva, sendo a instrumental mais peculiar gravada pelos norte-americanos. Já "Lines In The Sand", composta pro John Petrucci, assim como " Scarred, é mais uma daquelas canções progressivas cheias de mudanças de andamentos, só que seguindo uma linha mais acessível e menos intrincada que a anterior. Os destaques vão para o desempenho no teclado e piano de Derek Sherinian e para o solo de guitarra absolutamente incrível e cheio de melodia de Petrucci.
4. Home

     Presente no clássico " Metropolis Pt. 2: Scenes From The Memory", é inegavelmente uma música de grande exibição técnica de Mike Portnoy e cia. Porém, " Home" vai muito além disso .A interessante inclusão de elementos da música do oriente médio, a escala arábica explorada em abundância por  Petrucci, as incríveis linhas do baixo de John Myung e o refrão melódico e marcante inseridos dentro de uma atmosfera hipnótica transformaram esta numa das grandes obras do quinteto. 
5. Misunderstood
      Do álbum " Six Degrees Of Inner Turbulence", "Misunderstood" se mostra aparentemente como uma bela balada com uma introdução serena e sutil no violão, mas aos poucos vai cedendo espaço para a experimentação. A música vai assumindo uma atmosfera sombria em seu decorrer e se encerra com fortes elementos de psicodelia, lembrando muito  King Crimson. A balada mais atípica composta pela banda.
6. Octavarium
      Do álbum homônimo, mostra um dos momentos mais inspirados da banda em termos de composição. Para mim, dificil escolher entre esta ou " A Change Of Seasons". O que dizer de um grande  épico progressivo, com um baita conceito, em que a banda sonora e liricamente descreve um pouco da trajetória e vida de seus membros? Aqui estão presentes claras referências ao rock progressivo de bandas como Pink Floyd, Genesis, Yes e Rush que tiveram forte influência no som da banda. Um épico recomendado para os fãs mais conservadores do prog setentista. 

      Deixo, então, meu alento para aqueles que dizem odiar a banda que escutem estas e outras canções, se  permitam e tirem suas devidas conclusões. Você pode não curtir as músicas da banda, não gostar do vocal de James Labrie, ter dificuldades e pouca paciência para apreciar faixas longas e intrincadas, mas há de convir comigo que as acusações acima são fruto de um preconceito absoluto, calcado no mero senso comum do virtuosismo do Dream Theater.

Wendell Carvalho



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