sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Cena Stoner Rock do Séc XXI - Separando O Joio do Trigo ( Parte 1)




   No começo dos anos 90, algumas bandas da Califórnia, destacando-se entre elas, o Kyuss e o Sleep, apareceram no cenário musical com uma proposta sonora calcada no resgate da psicodelia, peso, influência do blues e timbres dos instrumentos das bandas de Hard Rock/ Heavy Metal do final dos anos 60 e início dos anos 70, destacando-se entre elas nomes como Blue Cheer, Black Sabbath, Sir Lord Baltimore, Led Zeppelin, Deep Purple, entre outros. A mídia logo tratou de atribuir alguns nomes para rotular a nova cena musical, dentre eles, Desert rock e o mais popular Stoner rock. Essas novas bandas traziam essas influências numa reciclagem do padrão setentista, incorporando também bastante peso, distorção e uma certa sujeira na produção, dando aquele ar de banda de garagem.


 A partir disso, muitas outras bandas surgiram com proposta similar, o movimento cresceu, atingiu a Europa ( principalmente a Suécia) e se diversificou. Entretanto, nada se compara ao crescimento e surgimento demasiado de novas bandas com a proposta Stoner no nosso atual século e, principalmente nos últimos 10 anos. Os Estados Unidos e a Suécia seguem sendo as maiores fontes, mas o estilo ganhou outras partes do mundo e, vem conseguindo até mesmo ultrapassar as fronteiras do underground , alcançando o mainstream. Nomes como Queens Of Stone Age, Wolfmother e o atual Rival Sons são exemplos disso.

   O meu compromisso neste trabalho é traçar um panorama superficial sobre essa atual cena Stoner ( já que são bandas demais), deixar claro minha opinião sobre alguns tão falados nomes e literalmente separar o joio do trigo, ressaltando realmente aqueles que valem à pena e trazem um algo mais a tudo isso se destacando dentre muitos outros que apenas estão procurando de forma genérica se incluir dentro da cena.

   As boas bandas:

   Nesse espaço, cito os nomes que me conquistaram e realmente fazem um algo a mais além de apenas reproduzir aquilo que já foi feito anteriormente na década de 70.


   Blood Ceremony






   O Blood Ceremony é uma banda canadense formada em Toronto, Ontário, no ano de 2006, criada pela vocalista, organista e flautista Alia O`Brien e pelo guitarrista Sean Kennedy, responsável pela grande parte do processo de composição das músicas.

   Seu estilo funciona como uma inesperado encontro do Black Sabbath com seus riffs pesados e arrastados com o lado folk do Jethro Tull, refletido principalmente através da flauta tocada por Alia O`Brien. Sua temática é baseada em temas relacionados ao ocultismo e à magia negra, o que os leva a ser relacionados à cena Occult Rock de nomes como Ghost e Year Of The Goat.

   Sendo honesto, atualmente de toda esta cena rock retrô, é a minha banda preferida. Essa combinação de elementos pesados à leveza e suavidade do folk, combinado ao notório talento de Alia em todas as funções que exerce, seja nos belos vocais, na flauta à la Ian Anderson ou nos solos de hammond que nos remetem ao Uriah Heep, me conquistou. Acredito que o equilíbrio fruto dessa mescla mais que saudável de elementos, essa versatilidade do suave com o pesado, acaba sendo o seu  diferencial. Há um mar de bandas fazendo um som previsível, redondinho e abusando de repetir as mesmas fórmulas, o que particularmente acho cansativo. Felizmente, o Blood Ceremony passa longe disso.


 

   Recomendação: Living With The Ancients ( 2011)


   Grand Magus 




   O Grand Magus é um power trio de peso formado em Estocolmo, na Suécia, no ano de 1996. A banda é liderada pelo vocalista e guitarrista Janne "JB" Christofferson.

   O grupo começou praticando um Stoner Metal pesado, com muito groove e pitadas de melodias ao estilo southern rock, além influências de doom metal também em seu auto-intitulado álbum, lançado em Novembro de 2001.

   Ainda na discografia do trio, podemos destacar "Monument" ( 2003) e "Wolf`s Return" ( 2005). O terceiro disco já começava a apontar para o futuro da banda, com a inclusão de elementos do Heavy Metal tradicional. Com o passar do tempo, isso foi se tornando cada vez mais predominante e o som do Grand Magus foi ficando cada vez mais parecido com o som praticado por bandas como Judas Priest e Manowar, o que, na minha concepção, não foi muito positivo como um todo, já que o som da banda foi ficando um tanto quanto comum, previsível e longe da magia da estreia.



 


    Recomendação: Grand Magus ( 2001) 

   

 

  Graveyard




 

   O Graveyard é uma banda de Hard Rock/ Stoner rock formada em Gotemburgo, na Suécia, no ano de 2006, pelo guitarrista e vocalista Joakim Nilsson, guitarrista Truls Mörk, baixista Rikard Edlund e baterista Axel Sjoberg.

   A banda sueca já tem 4 álbuns na carreira e vem ganhando crescente popularidade dentro da cena retrô nos últimos anos. Apesar da produção retrô de seus discos e das referências de influências de nomes como Led Zeppelin e Black Sabbath, a cada disco a banda evolui e já pode se orgulhar de ter um som bem próprio e autêntico dentro da cena ( exatamente algo que todos deveriam buscar para não ficarem como meras cópias e clones). O Ouvinte é capaz de pegar qualquer balada dos últimos dois discos, como " Hard Times Lovin`", com todo o seu feeling blueseiro, quase soul, e pensar, " isso soa como uma balada do Graveyard", ou pegar uma música mais acelerada como " Goliath" e concluir, " essa soa como as mais aceleradas do Graveyard". Tudo isso sem contar o vocal de Joakim Nilsson e toda sua versatilidade, variando desde momentos mais amenos a outros carregados de agressividade, com seu timbre particularmente pigarreado.

    Infelizmente, hoje recebi a notícia do encerramento das atividades da banda devido a divergências internas. Uma pena!





   Recomendação:  Hisingen Blues ( 2011)



   Horisont


     


   Cansado de ouvir bandas retrô que necessariamente estão sempre revisitando riffs e a psicodelia de bandas como Black Sabbath, Deep Purple, Blue Cheer etc? Eis aqui uma boa indicação. O Horisont mostra seu diferencial justamente por abordar o Hard Rock/ Heavy Metal da segunda metade da década de 70, influenciado principalmente por bandas como Thin Lizzy e Judas Priest. 

   Com base nessas influências, o que encontramos por aqui é muito bom gosto em um trabalho farto para amantes das guitarras gêmeas e o vocal do vocalista Axel Södeberg é um atrativo à parte, dando preferência por notas mais altas e explorando melodias vocais que, em muitos momentos, nos remetem à lenda Rob Halford.

   A banda é mais uma das que surgiu em meio a esse cenário revival que povoa a Suécia. Formada em 2006, já tem 4 álbuns no currículo e parece que vem evoluindo a cada disco. Seu último álbum, Odyssey, foi escolhido por mim como um dos melhores de 2015. ( veja aqui ).




 
   Recomendação: Odyssey ( 2015)



   Kadavar





   O Kadavar é um power trio formada em Berlin, na Alemanha, no ano de 2010. Mesmo com pouco tempo de estrada, os alemães já lançaram três discos e vem conquistando uma crescente popularidade.

   Se em seu primeiro álbum auto-intitulado, a banda prestava explicitamente homenagem aos seus ídolos do passado como Black Sabbath, Pentagram, Led Zeppelin e Scorpions, aos poucos as influências foram se diluindo e seu terceiro álbum, " Berlin", deixa bem claro isso, refletindo em um passo mais contundente rumo à identidade do grupo. 

   Comparado aos outros nomes dessa atual seara rock retrô, os alemães apresentam uma psicodelia mais contida. O foco mesmo é em um som mais simples, direto e até palatável em certos aspectos, considerando principalmente os dois últimos álbuns. Se você curte um rock and roll sem maiores frescuras, pode cair dentro, que você não se arrependerá!


   

   Recomendação: Berlin ( 2015)
   

   Radio Moscow





    O Radio Moscow é uma banda norte-americana de blues-rock psicodélico, formada em Story City, no Iowa, em 2003. A banda é liderada pelo vocalista, guitarrista e baterista de estúdio Parker Griggs, único presente desde a fundação. A banda já tem ao todo 6 discos, sendo quatro de estúdio e dois  ao vivo.

    Confesso que esses norte-americanos foram uma das grandes surpresas que tive nos últimos tempos. O som dos seus discos é gravado de forma predominantemente analógica, o que reflete em uma sonoridade extremamente orgânica ( um verdadeiro oásis em tempos de ampla digitalização) e é um deleite para os saudosos dos tempos de Woodstock. A fonte do som da banda está muito presente no blues e na psicodelia de grupos como Cream , The Jimmi Hendrix Experience e Cactus, explorando sem medo passagens de muito experimentalismo e psicodelia, sempre com um climão rock and roll embutido. Tudo isso misturado a uma moderada urgência e agressividade advinda dos tempos mais modernos.

   Com esse tipo de som, é natural que a banda tenha um foco nas apresentações ao vivo, o que se reflete nos dois álbuns ao vivo já lançados pela banda em tão pouco tempo de estrada, onde o som do grupo ganha novos e poderosos contornos.



                   
 

   Recomendação: Brain Cycles ( 2009)
 

  The Vintage Caravan



 
   

   Acredito que dentre todas as bandas desta lista, a islandesa  The Vintage Caravan é possivelmente a mais surpreendente. Uma das melhores bandas da atualidade sem pestanejar!Como pode esse power trio ( mais um!) formado por garotos em torno de seus apenas 20 anos executar um som tão denso, pesado, avassalador e já com tanto bom gosto?

   O The Vintage Caravan foi formado no ano de 2006 em Álftanes, na Islândia. ( quando ainda eram apenas crianças) e tem apenas três álbuns gravados.

   O seu som é uma amálgama de nomes do Heavy Rock dos anos 70 como toda boa banda de stoner, por vezes explorando temas mais longos com muitas jams e psicodelia. O instrumental é bastante coeso e muito bem trabalhado (em alguns momentos até com influências do rock progressivo). Tudo isso somado a uma intensa energia e vitalidade.

   Para quem se interessar mais, vale a dica: a banda está passando pelo Brasil pela primeira vez e já tem apresentação confirmada em mais de sete capitais.


 


   Recomendação: Voyage ( 2014) e/ou Arrival ( 2015)


   Witchcraft






    Banda sueca de Stoner/ Doom metal/ Hard Rock formada em Orebro no ano de 2000, por Magnus Pelander a princípio com o intuito apenas de prestar homenagem a Bobby Liebling, do Pentagram. 

   O WitchCraft lançou esse ano seu quinto álbum de estúdio, " Nucleus" ( confira resenha aqui). Após ter passado por diversas mudanças de formação, o vocalista e guitarrista Magnus Pelander segue sendo o único remanescente. 

   Em seus três primeiros álbuns, a banda executava um som bastante retrô, com uma produção super crua no modo old school, refletindo influências principalmente de Sabbath e Pentagram. Em "Legend" ( 2012), seu quarto álbum, a banda tratou de modernizar um pouco a sua sonoridade, sem abrir mão de sua essência, o que na minha opinião, acabou por fazer o grupo encontrar a sua melhor forma. 

   O som da banda é pesado, mas com bastante ênfase nas melodias com instrumental coeso e bem trabalhado e forte destaque para o trabalho das guitarras em riffs pesados e grudentos, além de solos de puro feeling. O vocal de Magnus Pelander é outro destaque com seu particular e agradável timbre de voz. Aliás, sem exageros pra mim, um dos melhores vocalistas da atualidade.




   Recomendação: " Legend" ( 2012)



   No próximo capítulo, um olhar mais crítico sobre outras bandas do movimento, além de indicações de bandas nacionais do estilo. E aí, gostaram? Concordam com os nomes, gostariam de acrescentar outros? Deixem os seus comentários abaixo.

   
   
   

   

 

 

 
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente Aqui: