Enfim, passado o Carnaval e dado o tempo suficiente pra absorver parte dessa enxurrada de excelentes audições que tivemos em 2017, eis a minha lista dos melhores álbuns do ano passado:
1. Álbum do Ano: Wobbler - From Silence To Nowhere
O Wobbler é uma banda norueguesa de rock progressivo sinfônico. Faziam já 6 anos desde o último álbum, " Rites At Dawn". Uma pena terem demorado tanto tempo para lançar mais um petardo de sua até então perfeita discografia. Em " From Silence To Nowhere", os amantes do velho rock progressivo sinfônico inglês que ainda não são familiarizados com o som do grupo, poderão encontrar uma verdadeira jóia de ideias que fizeram do estilo o mais belo e complexo do rock. Aqui não faltam épicos, longas composições, climas que se alternam entre a intensidade de um tufão e a calmaria de um passeio num bosque, arranjos de excelência, instrumental primoroso e vocais belos e emocionantes. É um disco extasiante, viciante e inacreditável de tão bom!
2. The Flying Eyes - The Burning Of The Season
A cena Stoner Rock é uma das cenas que tem mais rendido bons frutos ao rock recentemente. É verdade que há muita coisa genérica e que soa como mera cópia, mas há realmente valores de excelência que merecem sua atenção. O The Flying Eyes é um deles. Em " The Burning Of The Season", seu quarto e derradeiro álbum, os americanos de Baltimore compuseram um grande álbum, onde exploram de forma brilhante um Hard Rock altamente psicodélico, hipnótico e climático, combinando com uma pitada de melancolia das bandas de Seattle dos anos 90. É possível notar também uma personalidade mais forte adquirida pela banda neste registro. Um pena já terem anunciado o seu encerramento, pois sem dúvidas, " The Burning Of The Season" é um álbum inspiradíssimo, emocionante e, muito provavelmente, o melhor trabalho da banda.
3. Steven Wilson - To The Bone
O grande nome da cena progressiva dos últimos 20 anos lançou um álbum controverso, onde renega qualquer necessidade de vínculo ao estilo, mergulhando sem medo nas influências da música pop e provocando a repulsa de parte dos fãs mais puristas. O seu objetivo de fato foi produzir um álbum de música pop com qualidade, beleza e profundidade que raramente se encontra no estilo nos dias de hoje. E " To The Bone" atingiu esse objetivo com louvor. Se ainda estivéssemos nos anos 90, parte do repertório poderia " estourar" nas rádios. O álbum chamou a atenção do mainstream e figurou em primeiro lugar na sua primeira semana de lançamento deixando nada mais do que Ed Sheeran para trás. E, mesmo que enverede por um caminho aparentemente novo (pelo menos na carreira solo do músico), " To The Bone" mantém intacta toda a essência e as particularidades da música de Steven Wilson. Abra sua mente e permita-se degustar um dos melhores álbuns de música pop dos últimos tempos.
4. Thunder - Rip It Up
O Hard Rock é um estilo já bastante saturado. Ao contrário do progressivo, há pouco espaço para experimentação e tudo se resume a reciclagem de ideias dos velhos medalhões do passado. No entanto, certas vezes, mesmo sem apresentar algo de novo, é possível transmitir ao ouvinte um frescor e uma intensidade de um estilo emergente. A missão é ingrata e a dificuldade aumenta de tamanho quando temos pela frente uma banda veterana de mais de 25 anos de carreira. Contudo, a verdade é que esse registro me causou um frisson e um estado de surpresa absolutos. Incrível como todas as faixas soam bem encaixadas e como o álbum cresce a cada audição. O que esses músicos fizeram aqui é uma proeza. Um dos melhores trabalhos do estilo em anos. Direto, melódico, agradável e emocionante, um álbum que vale a pena a ser ouvido repetidas vezes.
5. Big Big Train - Grimspound
Mesmo com muitos anos de carreira desde o longíquo ano de 1990, a já veterana banda de neo-progressivo encontra-se em um momento fértil e de espantosa criatividade ( Em um espaço de pouco mais de um ano foram lançados três álbuns de estúdio, sendo o último " Second Brightest Star" uma compliação de material de excelência que não entrou em " Folklore" ou em " Grimspound". ). É possível sentir toda a positividade vivida pela banda através desses últimos trabalhos. A química e sinergia da atual formação é contagiante. Em " Grimspound", o Big Big Train consegue superar o seu já belíssimo álbum anterior. Mesclando influências do neo-progressivo e do progressivo sinfônico de bandas como o Genesis com a beleza e suavidade da música celta, os ingleses compuseram um dos mais belos álbuns de 2017. Destaque para o trabalho de cordas ( violino, cello, viola) a cargo de Rachel Hall e para a bateria do excepcional Nick D`Virgillio ( ex- Spock`s Beard, Genesis). Como não foi possível encontrar o álbum na íntegra no Youtube, deixo como amostra a música " Brave Captain".
6. Samsara Blues Experiment - One With The Universe
Quarto lançamento desse power trio alemão que é umas das melhores e mais autênticas bandas de Stoner Rock da atualidade. Seu som consiste numa deliciosa mistura de Stoner Rock com blues, Space Rock, ragga indiano e muita psicodelia. Em " One With The Universe", o fã da banda encontrará os já habituais elementos da sonoridade do grupo como composições longas, peso, além de passagens hipnóticas e chapadas. Acredito que o diferencial de " One With The Universe" esteja em sua produção desta feita um pouco mais limpa e no espaço cada vez maior com que os sintetizadores e teclados vem recebendo desde o lançamento anterior " Waiting For The Flood" ( 2013). Mais um criativo e empolgante trabalho desta interessante e excelente banda.
7. Vitral - Entre as Estrelas
" Entre as Estrelas" é o debut deste supergrupo de rock progressivo carioca. O Vitral é formado por Claudio Dantas ( bateria e percussão), Eduardo Aguillar ( baixo e teclados), Luiz Zamith ( guitarra) e Marcus Moura ( flautas), todos músicos de larga experiência e com passagem por grandes nomes da cena de rock progressivo do Rio de Janeiro como Quaterna Réquiem e Bacamarte. Apesar de ser o seu primeiro lançamento, a banda já tem mais de 30 anos de formação e este é o seu primeiro registro após uma exitosa reunião. Lançado no finzinho de 2017 ( 22 de Dezembro), " Entre as Estrelas" representa o rock progressivo sinfônico em sua total plenitude. O álbum é composto por apenas 3 músicas, sendo a faixa título uma suíte de incríveis 52`22``!. O disco é todo instrumental e apesar da aparente megalomania, creio que o grande triunfo e excelência dos músicos se reflita justamente em conseguir compor uma longa composição que em nenhum momento soa cansativa ou entediante. O álbum é um prato cheio para os fãs do rock progressivo sinfônico, com todos os elementos que caracterizam o gênero ( mudanças de andamento, tempos complexos, virtuosimo, lirismo, etc), onde todos os músicos se destacam individualmente de forma equivalente, formando uma sonoridade coesa e sólida coletivamente. Belíssimo trabalho que reflete todo o talento e brilho da cena do rock progressivo nacional. Deixo como amostra um dos movimentos da suíte que dá nome ao álbum.
8. Soen - Lykaia
O Soen é um supergrupo sueco de Prog Metal liderado pelo baterista Martin Lopez ( ex- Opeth). Lykaia é o terceiro álbum lançado pela banda. Confesso que o Soen era uma banda que me gerava certo desconforto, por ser ainda muito presa a influências muito fortes de bandas como o Tool e o próprio Opeth. Era a nítida a ausência de uma identidade mais forte do grupo, apesar da excelência de seus integrantes. Contudo, em " Lykaia", o grupo se supera, deixando suas influências um pouco mais diluídas em músicas que transmitem uma atmosfera dramática e extremamente envolvente ( graças a um excelente trabalho de produção analógica também). A " cozinha " como de costume é um espetáculo a parte sendo o carro chefe do som, enquanto a guitarra de Marcus Jidell nos brinda com riffs cortantes e solos precisos, e o vocalista Joel Ekelöf brilha com uma performance e interpretação que contribui também de forma decisiva para a dramaticidade da sonoridade. O ápice criativo e técnico de uma banda em evolução.
9. Deep Purple - Infinite
" Infinite" é o derradeiro lançamento desta clássica e icônica banda que dispensa apresentações. Confesso realmente ter me surpreendido com o nível das composições e da qualidade do material do trabalho, dado que o Deep Purple é uma banda tão veterana e já de muito tempo vinha demonstrando certos sinais de desgaste. Entretanto, é possível que o iminente fim do grupo tenha contribuído para um esforço e uma notável superação. " Infinite" não se equipara obviamente aos grandes clássicos da banda, mas é facilmente o melhor e mais inspirado trabalho desde " Purpendicular" (1996). Uma despedida digna e à altura de uma das maiores lendas da história do rock.
10. Tangerine Dream - Quantum Gate
Música para transcender, para viajar e relaxar..., a arte de criar viajantes e belas paisagens musicais através do poder dos sintetizadores. Eis a especialidade desses precursores da música progressiva eletrônica e o que eles têm feito de melhor ao longo de já incríveis 50 anos de existência. Se você é fã desse estilo de música ou de clássicos como " Phaedra" ou " Stratosfear", pode mergulhar em mais este registro sem medo de ser feliz. Um álbum com música para " sentir" e se deixar envolver como tudo o que se espera normalmente vindo desses alemães.
Menções Honrosas:
. Anathema - The Optmist - Após muitas mudanças e variações em seu som, a partir do fantástico " We`re Here Because We`re Here", a banda parece ter encontrado um certa estabilidade. " The Optmist" oferece aos fãs uma continuação da história de " A Day To Exit" ( 2001), com uma sonoridade mais próxima dos últimos álbuns. Destaque para a maior presença dos vocais da ótima Lee Douglas.
.Kadavar - Rough Times - Outra excelente banda de Stoner Rock. Cada vez mais certeiros e convincentes. Peso e psicodelia na dose certa.
.Kreator - Gods Of Violence - Não sou um grande fã da sonoridade tradicional da banda. Mas, a mescla de Thrash Metal com metal tradicional e power metal vem sendo produzida com uma inegável excelência pelos alemães em seus últimos álbuns.
.Lunatic Soul - Fracture - Projeto Solo do talentoso baixista e líder do Riverside, Mariuzs Duda. Quinto álbum do projeto. Música progressiva e eletrônica de qualidade com linhas de baixo inspiradas e cativantes. Sempre se pode esperar algo de qualidade vindo da principal mente do Riverside.
. Threshold - Legends Of The Shires - Álbum duplo que marca o retorno do antigo vocalista Glynn Morgan após a saída de Damian Wilson. Mudança esta que injetou doses significativas de melodia e influências AOR no som do grupo. Ótimo trabalho, mas que poderia ser mais enxuto.
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