Lançado há pouco mais de um mês [ 20/05/16 ], " The Fall Of Hearts", é o décimo trabalho de estúdio dos suecos do Katatonia, o primeiro desde " Dead End Kings" ( 2012), tendo as estreias do baterista Daniel Moilanen e do guitarrista Roger Öjersson. Para quem ainda não conhece a banda, o Katatonia é um dos grupos oriundos da cena Death/ Doom metal que ganhou destaque na Europa e , principalmente, na Inglaterra, nos anos 90. E, como ocorreu com uma parte considerável das bandas pertencentes a esse movimento, o som do grupo sofreu mudanças significativas com o passar do tempo, passando pelo Gothic Metal de "Discouraged Ones" ( 1998), pelo metal alternativo sofisticado de "Viva Emptiness" ( 2003), até ao metal de certa acessibilidade do último " Dead End Kings" ( 2012).
Já são mais de 25 anos desde a formação do Katatonia e de lá pra cá, a única coisa que segue intacta é aquela atmosfera densa, introspetiva e melancólica, que sempre marcou o som do grupo. Os únicos integrantes remanescentes, o talentoso vocalista Jonas Renkse e o guitarrista Anders Nyström, seguem dando o rumo do " barco" e, mais uma vez, assumem de forma brilhante a produção deste novo trabalho, que de forma decisiva representa um novo passo na sonoridade da banda em direção ao rock/ metal progressivo. Num álbum recheado de detalhes e com tal direcionamento, somados a costumeira ambiência e profundidade exploradas pelos suecos, a dupla teve que se esforçar mais do que nunca nesse novo tento.
Meio que de surpresa, sem introdução, como se estivéssemos no meio de uma canção, o álbum se inicia com a impressionante " Takeover". Cheia de nuances, mudanças de andamento e contratempos, ela faz o cartão de visitas de "The Fall Of Hearts". As melodias vocais de Jonas Renkse surgem mais apuradas do que nunca e em meio a todo o direcionamento progressivo da canção, sua voz ganha destaque num refrão melódico e envolvente, trazendo à tona a acessibilidade de " Dead End Kings", e evocando com força a melancolia da banda.
Tal acessibilidade se faz presente também nos já lançados singles " Serein", que segue um estilo próximo ao do Anathema do final dos anos 90 e com a climática e cadenciada "Old Heart Falls", faixa que dá ênfase aos belos fraseados da guitarra de Anders Nyström e ao uso interessante de sintetizadores e teclados, que marcam presença forte e são parte essencial no clima das canções do trabalho, mas em nenhum momento assumem o protagonismo e o virtuosismo exacerbado das bandas de rock progressivo.
Falando em teclados, como não se deliciar com o mellotron em " Decima" ou com as passagens jazzísticas de piano em " Shifting". Evocando um clima fantasmagórico e ao mesmo tempo sereno, nos remetem invariavelmente às baladas do Opeth. Quem acompanha o Katatonia, sabe que o Opeth é uma das influências da banda e não é pra menos, pois Mikael Akerfeldt é amicíssimo de Jonas Renkse e Anders Nyström.
A influência do Opeth também se mostra bastante proeminente na pesada "Serac", Algo que o novo álbum traz, apesar de toda a progressividade e melodias marcantes, é o retorno do lado mais metal da banda. Faixas como " Last Song Before The Fade" e "Passer" não nos deixam mentir. Entretanto, tudo aparece de forma minuciosamente balanceada e variada, fazendo com que a audição do trabalho flua da melhor forma possível.
Em termos de excelência técnica, a banda parece mais afiada do que nunca. No entanto, esta técnica nunca vem de forma exagerada ou gratuita, com o foco sempre voltado para as composições. Dentre os estreantes, o destaque especial fica para a performance do habilidoso baterista Daniel Moilanen, com uma bateria de presença forte e marcante, somando ao peso do álbum e com viradas de cair o queixo, como podemos perceber na espetacular " The Night Subscriber", canção épica que traz todos os ingredientes que fazem do Katatonia uma banda especial: feeling, peso e melodias belas e cativantes.
Melancólico, pesado, melódico como sempre e progressivo como nunca, " The Fall Of Hearts" parece abrir um novo campo de possibilidades para os suecos em mais um passo dado em sua diversificada discografia. E o mais legal de tudo é que tudo aqui apresentado vem como forma de uma evolução natural dos seus trabalhos anteriores, o que faz com que o disco tenha totais condições de ser apreciado e admirado pelos seus fãs mais antigos. É muito gratificante ver uma banda com tanto tempo de estrada conseguindo se superar a cada álbum e produzindo um disco tão belo e sofisticado, quiçá o melhor de toda a sua carreira. Na minha humilde opinião, um candidato sério a listas de fim de ano.
Nota: 9,5
Katatonia - The Fall Of Hearts ( 2016)
1. Takeover
2. Serein
3. Old Heart Falls
4. Decima
5. Sanction
6. Residual
7. Serac
8. Last Song Before The Fade
9. Shifting
10. The Night Subscriber
11. Pale Flag
12. Passer
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