domingo, 27 de março de 2016

Steven Wilson: " Não consigo me imaginar voltando a dinâmica de uma banda"



   O multi-instrumentista, compositor e ícone do progressivo moderno Steven Wilson, em recente passagem pela América do Sul, com shows em Santiago ( Chile), São Paulo e Buenos Aires ( Angertina), concedeu uma entrevista ao blog Futuro da rádio chilena 88.9FM. Nessa entrevista, ele falou sobre diversos assuntos envolvendo sua carreira solo, parceria com Mikael Akerfeldt ( Opeth), Porcupine Tree e sobre a música em geral. Seguem trechos traduzidos da entrevista abaixo:


   E: O seu último lançamento "4¹/²" é um mini-álbum de transição. De onde partiu sua ideia em fazer algo assim?

   SW: Eu sempre escrevo mais músicas do que realmente necessito para um álbum. Desta forma, havia muita música que ficou de fora de " Hand Cannot Erase", mais até do que das outras vezes. Quando isso ocorre, não é porque a música é ruim, mas sim porque não encaixa com o resto. Então, juntei músicas que me deixaram igualmente orgulhoso e as encaixei em um outro tipo de álbum.

   E: Já está pensando em um novo disco?"4¹/²" pode ser encarado como um prenúncio para um futuro trabalho?

   SW: As músicas de " Hand Cannot Erase" e "4¹/²" parecem frescas agora, mas foram feitas num período de dois anos. Eu já tenho um total de 3 músicas que se somam a um total de 6 que escrevi nos últimos tempos. Mas, quando estou iniciando um processo de composição, prefiro olhar pra frente. Não gosto de me repetir.
 
  E: O que você pensa de uma reunião do Porcupine Tree? É algo que os fãs sempre especulam?

  SW: Eu creio que as pessoas são muito nostálgicas em geral. Eu as entendo, mas é preciso ter uma boa razão para me convencer a fazer isso. Por que vou querer voltar atrás? Eu gosto de seguir em frente. Hoje, estou trabalhando com músicos diferentes, experimentando coisas diferentes, diferentes forças musicais... não consigo me imaginar voltando a uma dinâmica de banda.

   E: Era tão diferente estar com o Porcupine Tree?

   SW: Veja, o Porcupine Tree de toda maneira começou como um projeto solo meu. Se transformou em uma banda creio que porque eu não tinha muita confiança nos meus primeiros anos. Então, precisei de uma banda a minha volta para que fizesse tudo de uma forma mais segura. Mas, nunca foi realmente uma banda. Era um projeto solo meu, escrevia quase todas as músicas, produzia todos os discos e estava no controle da direção do projeto o tempo todo.

   E: Então passar para a carreira solo foi como seguir um processo natural?

   SW: A carreira solo foi como uma continuação com mais possibilidades e liberdade. Tem fãs com uma ideia romântica de que no Porcupine Tree, as coisas funcionavam de uma forma mais coletiva, mas não era tanto assim. Não é que os outros músicos não tenham contribuído cada um com sua personalidade, mas já fizemos tudo que poderíamos fazer como um conjunto. Agora, me sinto bem e quero seguir avançando e evoluindo.

   E: Agora, falando de colaborações. Você gostaria de fazer algo a mais com Mikael Akerfeldt, com quem você colaborou recentemente no trabalho " Storm Corrosion"?

   SW: Espero que sim. O disco " Storm Corrosion" foi uma das coisas que fiz fora da minha carreira solo nos últimos anos. Nós passamos um tempo legal fazendo este trabalho. Na verdade, a sua sonoridade foi resultado de uma reunião entre dois amigos para tomar vinho e tocar música exótica. Gostaria que fizéssemos algo juntos novamente, mas não há planos concretos por agora. Ele está escrevendo para o novo álbum do Opeth, enquanto eu estou com meu próximo álbum. Assim, não vejo quando poderemos nos juntar, mas em algum momento deve acontecer.

   E: Falemos agora sobre o seu show: " An Evening With Steven Wilson".

   SW: O show está dividido em duas partes. A primeira é constituída de 75 minutos de performance na íntegra do disco " Hand Cannot Erase", enquanto a segunda é a mescla de meu novo e velho material, incluindo o "4¹/²", coisas que fiz com o Porcupine Tree desde meados dos anos 90, e também o "Storm Corrosion".

  E: Recentemente, perdemos Keith Emerson e George Martin e antes David Bowie, Glenn Frey, Lemmy Kilmister... Estamos vivendo dias difíceis ao ver partir gigantes da música. O que você tem a dizer sobre isso? 

  SW: Creio que estamos entrando dentro de um período, que deve compreender os próximos 10 anos, em que perderemos muitos mais daqueles que ajudaram a moldar o que hoje conhecemos como rock clássico. Os grandes dos anos 60, da psicodelia, da experimentação, os dos anos 70... estão chegando ao fim de um ciclo vital, é algo natural.

   E: A ideia seria que enquanto eles fossem completando esse ciclo, outros viriam depois e a coisa fosse evoluindo

   SW: Entendo essa sensação amarga que as pessoas têm, a sensação de que não veio ninguém para tomar o lugar desse grandes. Se você olhar para os garotos de hoje, você verá que continuam escutando Led Zeppelin, The Beatles, Pink Floyd, Black Sabbath, Rolling Stones... Há algo de errado nisso no sentido de que temos vista uma nova geração de rockeiros surgindo já há um bom tempo.

   E: Desses que partiram recentemente, tem um que você tenha sentido mais em especial?

   SW: David Bowie. Assisti aos Rolling Stones recentemente no México e todo o repertório era de canções dos anos 60 e 70, todo o show. É claro que são os seus êxitos, as mais populares. Mas, alguém como David Bowie não trabalhava assim. Sempre até o final, ele buscou fazer música nova, evoluir como artista. Este tipo de pessoa é muito rara de se encontrar. E é assim que quero ser. Esse é o modelo ideal para mim, sempre progredindo , olhando para o futuro. Precisamos mais disso. Talvez assim o rock possa renascer e se mover para o futuro com uma atitude positiva.

   E: Mas, quando você se posiciona desta forma, há sempre um risco...

   SW: Sempre há um risco de se decepcionar os fãs, mas isso faz parte da aposta de ser um artista. Se você quer ser um AC/DC e gravar o mesmo disco por 40 anos, tudo bem. Mas, isso para mim é sinal de morte criativa. Não é o que quero para mim. E pago um pouco o preço por isso, porque toco para audiências menores do que, por exemplo, se seguisse com o Porcupine Tree. Mas, isso não é suficientemente importante para mim. O que me importa é que esteja fazendo algo vital.




  Fonte: http://www.futuro.cl/blog/2016/03/steven-wilson-entramos-a-un-periodo-en-que-perderemos-a-los-que-moldearon-el-rock/



 

   

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