sábado, 24 de dezembro de 2016

Centurion Weekends: Rock Progressivo Italiano ( parte III)



 
   Dando seguimento à saga de uma das maiores cenas da história do rock progressivo e geral, com a colaboração do nosso querido Luis Fernando Rios, temos agora a terceira parte.  ( veja parte I aqui e parte II aqui). Desta feita, abordaremos alguns lançamentos de  destaque de bandas menores. Muitas delas apenas com um ou dois álbuns lançados que, ficaram pelo caminho devido a saturação da cena. No entanto, a qualidade destes trabalhos as elevaram à condição de ícones cult dentre os amantes de progressivo. Vamos a elas:


    MUSEO ROSENBACH - ZARATHUSTRA ( 1973)

    



     Banda de pouco sucesso quando surgiu em 1971. Antes, com o nome de INAUGURAZIONE DEL MUSEO RESENBACH, faziam covers de bandas da década de 1960 e 1970.

     Em 1973 lançaram “ZARATHUSTRA”. Álbum fantástico, que hoje é valiosíssimo entre os amantes do rock progressivo italiano. Suas letras e músicas são inspiradas em Nietzche. A banda foi também associada ao fascismo, mostrando como a cena do rock progressivo italiano estava entremeada realmente de poesia, literatura, política, drama e outras influências que permeavam o ambiente social daquele momento na Itália.

     Suas principais influências são BANCO e PINK FLOYD e ,assim, moldaram o som deste disco com muito mellotron, hammond e piano de PIT CORRADI e ALBERTO MORENO, que além das teclas, tocava o baixo. Com uma voz rouca e bastante original, aparecia o vocalista STEFANO GALIFI. Os outros, ENZO MEROGNO na guitarra e vocal e GIANCARLO GOLZI na bateria, completavam esse grupo que representa o prog italiano com extrema inspiração.

       Em “ZARATHUSTRA”, temos aí um disco essencial que apresenta uma simbiose perfeita entre a parte rítmica, órgãos e guitarra. A épica suite "ZARATHUSTRA" tem um clima pesado e denso, com esses instrumentos interagindo de forma magnífica. No restante do disco, temos ainda momentos brilhantes com destaque para a presença da guitarra de ENZO e dos teclados de PIT e ALBERTO, nos remetendo às bandas consagradas do rock progressivo inglês que já em 1973, estava em pleno auge.

     Além de " ZARATHUSTRA", temos ainda o registro de um show em 1972, “LIVE ’72”, que só foi lançado em 1992 e um disco de 2000, “EXIT”, que tem a participação do baixista / tecladista ALBERTO MORENO e do baterista GIANCARLO GOLZI, como membros originais e com características bem mais comerciais.

   Nos dias atuais, a banda segue em atividade. Seu último registro foi “BARBARICA” de 2013. É um ótimo álbum, com momentos que nos levam às composições da década de 1970.  Um disco de rock progressivo clássico que recoloca a banda como uma das remanescentes do rock progressivo italiano, num patamar digno. 


   

    ALPHATAURUS - ALPHATAURUS ( 1973)


 


    O ALPHATAURUS é uma banda de Milão, formada no ano de 1971. Sua música pode ser entendida como uma combinação de elementos de bandas de Hard Rock como LED ZEPPELIN  e URIAH HEEP com bandas de progressivo como PINK FLOYD.

   Seu álbum auto-intitulado foi lançado no ano de 1973 pela gravadora MAGMA. Este trabalho é considerado por muitos como um dos dez melhores álbuns lançados pelo movimento.  Um disco 5 estrelas em muitas publicações do gênero, uma pérola única na história do rock progressivo.

   Seu som clássico, que se alterna entre passagens pesadas e outras sutis e melódicas, como na primeira música, PECCATO D´ORGOGLIO, deixa de cara o ouvinte interessado.  Embora, o álbum como um todo seja um trabalho deveras consistente, os destaques ficam para as duas últimas faixas " LA MENTE VOLA" e " OMBRA MUTA", além de um solo de vibrafone absolutamente espetacular na instrumental " CROMA".  "LA MENTE VOLA" é o que eu chamaria de deleite em forma de rock, com teclados numa química perfeita com o baixo e a bateria como um motor pulsante. Em determinado momento, ocorre uma variação rítmica entre um piano e o vocal, trazendo a melodia principal da música, que chega ao seu fim com um verdadeiro show de bateria, baixo e teclados. Maravilhosa! "OMBRA MUTA" fecha o disco de forma fantástica em mais de 9 minutos de tudo aquilo que representa o álbum como um todo: vocais ora agressivos, ora suaves, teclados variados e criativos, baixo pesado e onipresente e bateria ditando o ritmo das variações...

   Após esse grande clássico, a banda ainda iniciou a composição e a gravação de um segundo álbum, que infelizmente não veio à luz, graças ao fechamento prematuro da gravadora. ( Esse material composto por demos e seções instrumentais viria a ser lançado a parte no ano de 1993 num disco chamado " DIETRO L´URAGANO" . O grupo retomou suas atividades em 2010 e lançaram em 2012 um álbum numa roupagem de um heavy prog mais moderno, mas ainda de imensa qualidade, com o nome de "ATTOSECONDO". Permanecem como membros remanescentes o guitarrista GUIDO WASSERMAN e o tecladista PIETRO PIETRI.



  

   QUELLA VECCHIA LOCANDA - QUELLA VECCHIA LOCANDA ( 1972)




    QUELLA VECCHIA LOCANDA foi um grupo natural de Roma em atividade entre os anos de 1970 e 1974. Nesse período, a banda lançou dois discos. Entretanto, é o primeiro auto-intitulado álbum que reúne toda sua grandiosidade e beleza.

    "QUELLA VECCHIA LOCANDA" é um álbum conceitual, que mostra em sua sonoridade claramente uma influência sinfônica em compositores do período barroco como BACH e VIVALDI, com algumas poucas passagens também hard rock e folk à la JETHRO TULL. A flauta, o violino e o teclado marcam muito o som de todo o álbum. Os vocais muito bem harmonizados com a guitarra e os teclados ajudam a criar uma ótima atmosfera sinfônica. para adoradores do rock progressivo italiano como eu, é um item imperdível.

   Em " PROLOGO", podemos perceber um clima de fábula e toques clássicos com o violino ditando o ritmo com os teclados. Na segunda faixa, '' UN VILLAGIO UN´ILLUSIONE´´, sentimos que flauta e guitarra andam juntas, enquanto o baixo e o teclado e, por vezes, o violino se revezam em solos muitas vezes dobrados ou combinados. Em " REALTÀ', a mais bela do álbum, temos violão, flauta e teclados em destaque e um vocal leve e em coro às vezes. Sua batida a transforma em uma das grandes baladas do rock progressivo italiano, com entradas de piano e violino, criando um arranjo divinamente lindo.

   Já " IMMAGINI SFO VERSO CATE" e " CIELO" apresentam momentos mais intricados, com pitadas de jazz rock. Em "LA LOCANDA",  um toque mais melodioso se apresenta, com solos de teclado e violino bem presentes e o encerramento do disco se dá com a clássica " SOGNO, RISVEGLIO E...", com vocais que trazem um desfecho melódico excepcional para este lindo álbum.

   Em 1974, a banda lançou o álbum " IL TEMPO DELLA GIOGIA", num nível abaixo da estreia. A dificuldade em encontrar um espaço no mercado saturado de bandas do estilo, combinada a falta de sustentação da crítica infelizmente acabaram levando à banda a uma precoce dissolução.




 NEW TROLLS - CONCERTO GROSSO PER 1 (1971)



 
    O NEW TROLLS  foi uma banda formada em meados da década de 60 pelos músicos VITTORIO DE SCALZI ( guitarra e vocal), NICO DI PAOLO ( guitarra e vocal), MAURO CHIARUGI ( teclado), GIORGIO D´ADAMO ( baixo e vocal), e GIANNI BELLENO ( bateria e vocal). Conhecida por sua fusão entre rock e música clássica, sua trajetória foi marcada por várias brigas entre integrantes e mudanças de nome. Dentre as bandas menores, o NEW TROLLS até que conseguiu uma relativa notoriedade, tendo lançado 4 álbuns entre 1968 e 1972, sendo um inclusive todo em inglês. 

   Entretanto, é o terceiro álbum, " CONCERTO GROSSO PER I" , o mais importante de sua discografia. Trata-se do disco que melhor consegue mesclar ou aproximar a música erudita com o rock progressivo. Só para se ter uma ideia, o álbum tem sua música composta pelo maestro e compositor italiano, LUIZ ENRIQUE BACALOV. O músico chegou inclusive a compor trilhas sonoras. 

   O trabalho foi dividido da seguinte maneira:

1º Tempo: Allegro
2° Tempo: Adagio ( Shadows)
3° Tempo: Cadenza - Andante Con Moto
4° Tempo: Shadows ( per Jimi Hendrix)
. Nella Sala Vuota

   Descrever aqui cada trecho seria um exercício impossível, dada a riqueza das orquestrações. É uma mescla fabulosa da música clássica com o rock, mas de uma maneira muito acessível e cativante. O álbum é realmente lindo e desperta no ouvinte uma estupefação que só entende quem já ouviu. 

   Digno de nota são a homenagem feita pelo grupo a JIMI HENDRIX, que havia falecido um ano antes da gravação do álbum, sendo a última faixa nada mais do que 20 minutos de uma improvisação fustigante e criativa. Impactante!


   

CORTE DEI MIRACOLI - CORTE DEI MIRACOLI ( 1976)

   

   

        Em 1973 nasceu essa ótima banda com músicos de muito boa técnica e com uma grande influência de BANCO DEL MUTUO SOCCORSO, GENESIS, PFM e VAN DER GRAAF GENERATOR.
Sua música é mais ou menos complexa, baseada nos teclados de ALESSIO FELTRI e MICHELECARLONE que dá lugar em 1976 a RICCARDO ZEGNA. Este último, participou da gravação do principal registro da banda.

   Este álbum recebeu o nome de “CORTE DEI MIRACOLI”. é um álbum que é considerado um pilar do rock progressivo italiano. Músicas bem trabalhadas, com foprte ênfase nos teclados e sintetizadores, com dois tecladistas e um guitarrista convidado. VITTORIO DE SCALZI ( o mesmo do NEW TROLLS). Um álbum melódico, sinfônico e grandioso. Ouçam com atenção todo trabalho, mas em especial a longa e belíssima “I Due Amanti”

   O interessante é que em 1973-74 eles já haviam composto um outro álbum, intitulado DIMENSIONE ONIRICA, que foi lançado tardiamente em 1992. Provavelmente isso aconteceu, porque no momento em que eles terminaram de gravar, não conseguiram nenhum selo que quisesse lançar. Algo que foi bastante comum à época, como já dito em outras oportunidades. Há também um disco ao vivo, lançado em 1993, chamado LIVE AT LUX, que também foi gravado num show em 1976 e engavetado, não se sabe ao certo por quais motivos. Ainda bem que selos da década de 1990 como o MELLOW, surgiram e apresentaram para posteridade essas pérolas perdidas.

   

   

   



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente Aqui: