Daqui a menos de um mês, duas das maiores referências do Doom Metal, Paradise Lost e Anathema, virão para o Brasil trazidas pela produtora Overload. Aproveitando isso, resolvi fazer a resenha do mais novo lançamento do Paradise Lost, "The Plague Within", trabalho que resgata com força total as raízes da banda inglesa.
Tanto Anathema como Paradise Lost têm características em comum. Ambas fizeram parte da cena inglesa de Doom/Death Metal do início dos anos 90 e passaram por várias mutações ao longo da carreira que fizeram com que se distanciassem bastante do gênero que ajudaram a criar. Entretanto, enquanto o Anathema seguiu um caminho sem volta e hoje pratica um som que mistura post rock a elementos de rock alternativo e música eletrônica, o Paradise Lost após sua fase mais experimental a la Depeche Mode, de álbuns como " One Second" e "Host", foi a cada lançamento incorporando mais peso e resgatando a essência de seu som. E o maior resultado dessa recente evolução está explícito nesse seu último registro. " The Plague Within" não só traz de volta o lado mais sombrio do grupo, como surpreende os fãs com a volta dos vocais guturais de Nick Holmes após mais de 20 anos sem uso desse recurso.
Uma introdução triunfal de guitarras gêmeas dá início a primeira faixa, "No Hope In Sight", e logo de cara temos a presença da agressividade nos vocais guturais de Nick Holmes. Mas, eis que a guitarra melódica de Gregor Mackitosh dá as caras trazendo toda a beleza e melancolia que consagrou a banda em álbuns como " Icon" e " Draconian Times". Instrumentalmente, a faixa acaba fazendo mais referência ao Gothic Metal praticado pelos ingleses nesses trabalhos e é a música mais acessível do álbum.
Em " Terminal", temos uma bem vinda adição de peso graças ao trabalho de bateria de Adrian Erlandsson que usa e abusa do bumbo duplo, enquanto as guitarras em certos momentos fazem referência a uma influência do Black Metal. Com uma levada mais acelerada, porém nem tanto, é um dos momentos mais emplogantes do disco. Destaque para o refrão, com um riff pesado e grudento de fazer qualquer headbanger ficar louco. É daqueles momentos que você literalmente sente vontade de dar socos no ar.
E a melancolia novamente vem à tona: com uma belíssima introdução de violino, " An Eternity Of Lies" mostra a capacidade da banda de criar momentos mais belos e intimistas. O destaque fica por conta do lindo e cheio de feeling solo de guitarra de Gregor Mackintosh, além da emoção transmitida pelos vocais de Nick Holmes, perceptível até nos momentos em que este canta com guturais.
O peso retorna com " Punishment Through Time", música que mostra a banda flertando com o Stoner Metal, algo que já vinha fazendo timidamente nos últimos álbuns. Na minha opinião, seria uma faceta interessante de seu som que o grupo poderia explorar melhor. Nick Holmes aqui usa o seu velho e conhecido drive, sendo esta a única a faixa a não contar com guturais.
Já " Beneath Broken Earth" é o típico Doom Metal no sentido literal da expresão: pesada, arrastada e soturna até dizer chega. Mais uma vez, a banda dá uma aula de feeling. Os guturais de Holmes são de colocar medo, a bateria cadenciada de Adrian Erlandsson segue a cartilha de Bill Ward ( Black Sabbath) e a guitarra de Gregor Mackintosh como sempre divina na capacidade de transmitir melodia.
Em tom mais ameno, mais ainda com os pés cravados no Doom Metal, temos "Sacrifice The Flame" , que mais uma vez usa o recurso do violino para lhe garantir beleza e melancolia, algo que nos remete ao Doom/ Death Metal de seus coterrâneos do My Dying Bride. Numa linha similar, " Victim Of The Past" apresenta mais variações de andamento e um pouco mais de agressividade. Nick Holmes impressiona também por sua segurança e firmeza na alternância dos vocais guturais com vocais muito limpos e suaves, de uma forma que me fez lembrar até um pouco os suecos do Ghost. O uso de sintetizadores também contribui para deixar as coisas mais climáticas e até uma sensação de devaneio pode ser sentida pelo ouvinte. Grande canção!
"Flesh From Bone" vem como um prato cheio para os fãs do som mais extremo, alternando momentos cadenciados com outros de uma velocidade animalesca que lembra o puro Death Metal. Se por um lado ela pode agradar pela agressividade, pelo outro o momento mais brutal fez desfazer um pouco da áurea trazida até então, o que considerei um ponto negativo.
" Cry Out" adiciona mais vitalidade ao álbum e aproxima a banda do Stoner Metal novamente. Talvez a inclusão dos drives ao invés dos guturais fosse mais oportuna para a faixa, mas o resultado acabou ficando interessante. No meio da música, um interlúdio mais Gothic Metal com vocais mais limpos surpreende deixando a canção ainda mais interessante.
A última faixa," Return To The Sun", com orquestração e corais de fundo traz à tona um clima mais gótico novamente. Mas, apesar de ser uma boa canção, ela não traz em si um grande destaque individual que a diferencie das demais e acaba sendo um pouco mais do mesmo do que já foi ouvido. Penso que uma música final mais impactante talvez fosse necessária para dar aquele gostinho de grande álbum. Mas, se até o próprio clássico máximo " Draconian Times" tem seu fim na apenas razoável " Jaded", não devemos ser tão rigorosos.
O disco se encerra e a sensação que temos é que o Paradise Lost se encontra num grande momento. Mesmo após mais de 25 de anos de existência, sua música segue forte e emocionante. " The Plague Within" parece ter sido extraído dos primórdios da banda, mas ao mesmo tempo, tem como grande trunfo refletir o amadurecimento e a experiência adquiridos por seus membros ao longo de todos esses anos. Um álbum super recomendado para os fãs antigos e para os amantes da boa música pesada em geral. Um dos grandes lançamentos do ano até aqui.
Nota: 9
Paradise Lost - The Plague Within
1 | No Hope In Sight | |||||
2 | Terminal | |||||
3 | An Eternity Of Lies | |||||
4 | Punishment Through Time | |||||
5 | Beneath Broken Earth | |||||
6 | Sacrifice The Flame | |||||
7 | Victim of the Past | |||||
8 | Flesh From Bone | |||||
9 | Cry Out | |||||
10 | Return To The Sun |
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